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Amar
Que pode uma criatura
senão,
entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o
ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as
palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino:
amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta
mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. Carlos Drummond de Andrade Créditos
Tutorial, arte e
formatação: LauVitelli
Imagens :
Logane_mask_21janier2010
imagem jpg
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